sexta-feira, 3 de agosto de 2012




O VALOR DE UMA BOA ESCUTA

Falar é se colocar diante do outro na esperança de se fazer ouvir.
Já é hora de saudar essas irmãs gêmeas: as orelhas. pequenas conchas, flores delicadas, abertas para o mundo, essa forma sutil da nossa pele, uma réplica do nosso corpo antes de nascer. Elas reconhecem a respiração do ser querido, seus passos na escada, o canto de um pássaro, uma página virada de um livro, a impaciência dos dedos sobre a mesa, as preces, as revoltas, as confissões, as surpresas, os prazeres.
Elas são nossa consciência da música do mundo. Esse casal formado pelas duas orelhas é que permite o fenômeno da lateralidade. Cada um dos nossos ouvidos está ligado ao nosso cérebro: O ouvido direito ao lado esquerdo e o esquerdo ao direito, logo a orelha direita será para o destro, mais hábil, mais precisa. É com esse ouvido que o músico afina seu instrumento, que a criança aprende a lingua materna. O ouvido esquerdo é mais difuso, mais global, mais passivo. ele não consegue focar, só consegue captar o global. No entanto ele é o mais aberto, menos seletivo, menos voluntário. É o ouvido do coração.
O som tem a faculdade inegável de contornar obstáculos, ele nos ensina sobre o que a gente não vê.
Mas a nossa cultura vem cada vez mais desprezando esse território e privilegiando o visual, característica principal do lado esquerdo do nosso cérebro.
Apesar do progresso da eletrônica sonora, a serviço da reprodução musical, nossa cultura pareçe ignorar outros aspectos do nosso espaço sonoro. a acústica é considerada um terreno de pesquisa, luxuoso e secundário, no meio da barulheira da cidade.Nós temos que buscar um espaço silencioso para nos fazer mos ouvir, nesse mar de agitação.
Aprenda a interromper, a cortar seu próprio barulho. Isso deve estar sob seu comando. Faça do seu corpo apenas um ouvido, e se deixe flutuar num oceano sonoro.
E assim que você sentir que já pode correr risco, tente um movimento, um passo, sem parar de navegar,sem barulho. Persiga esse esforço, até que cesse qualquer julgamento,qualquer projeto, qualquer apetite. É a isso que chamamos trabalhar a abertura. Essa forma profunda de escuta, que penetra no interior do mundo, e que não é possível sem submissão e sem entrega. essa é a escuta transparente e verdadeira, a escuta do verdadeiro amigo. é assim que a gente deveria escutar todas as histórias que as pessoas tem para nos contar.